"O meio! Eles é que são o meio, assim perdidos, duplos, comprometidos com a podridão até à raiz "
Miguel Torga.
Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
Alexandre O'Neill
És o conhecimento que não quero ter, o ar tóxico que me fede nas papilas, o odor a viscosidade que me agonia no estrépido do caudal em decomposição. Não quero sentir-te, nunca mais.
Nem sei se o pior é o que não dizes ou se a verborreia que proferes com a mesma violência cega de pedras afiadas que projectas no ar, lapidares e contundentes, tão cheias daquela tua razão de esgoto putrefacto, contra a qual é inútil contrapor.
És tu quem sabe de tudo, és tu aquele a quem a escola da vida ensinou mais que mil canudos, aquele que tem sempre opinião formada até sobre o que não conhece, mas que se gruda à suas convicções canónicas como se fossem as únicas, as puras verdades imutáveis que o criador de todos os mundos no expoente máximo da sua ubiquidade, decidiu transmitir a ti e a ti unicamente.
Vives naquele mundo que criaste à tua imagem, onde todos são ignorantes e cegas ovelhas e tu o poderoso Polifemo Rex, a estagnada grande autoridade na matéria, toda ela.
Como um Morlock desprezível tentas incutir através de insidiosa osmose a tua visão distorcida da realidade a todo e qualquer incauto Eloi que desconheça o teu poder de devorador de almas, que trituras , esmagas e moldas à tua empáfia para logo descartares como lixo, excremento, porcaria, tão depressa chegue uma nesga de luz àquele buraco negro onde encarceras as suas mentes por ti re-formadas e deformadas.
Como um vírus peçonhento, contagias tudo e todos, traiçoeiro, viperino, rastejante e nojento, vives do alheio que respiras e que alimenta a tua soberba, e que te faz salivar de prazer à medida que o vicias e contaminas .
És o conhecimento que recuso conhecer. Um monstruoso e fétido esgoto que corre a céu aberto para um oceano saturado de podridão.
És o conhecimento que recuso conhecer. Um monstruoso e fétido esgoto que corre a céu aberto para um oceano saturado de podridão.